Mateus 12:1-8 Autoriza a Abolição do Sábado?

Ao fazer uma leitura rápida e superficial do texto em questão, o objetor conclui que, pelo fato de Cristo e os discípulos terem colhido espigas no Sábado justifica o trabalho secular neste dia, principalmente por causa que Cristo ter justificado a Sua atitude nos atos de Davi e dos sacerdotes nos serviços do templo. A aparente força da alegação é esta: Como o alimentar-se com os pães da proposição e os serviços no templo fazem parte da dita lei cerimonial, pode-se concluir que o sábado é cerimonial e, portanto, pode ser transgredido sem nenhuma carga de culpa.

Existem alguns pontos que merecem ser considerados:

A Lei Mosaica da Equidade Social

Na cultura cristã ocidental convencionou-se, erradamente, que a lei mosaica era uma lei cruel, exigente, sanguinária, legalista e que deixava o adorador sob um pesado jugo de “613” duros artigos legais, sendo que ela era o ÚNICO meio de se obter a justificação divina, pelo menos até a morte do Senhor Jesus Cristo. Esta padronização, infelizmente, está baseada em um sistema de interpretação das alianças bíblicas chamado dispensacionalismo que, entre seus axiomas, considera que em cada fase da História, as dispensações, Deus tem um meio distinto de tratar com Seu povo, provendo mecanismos de salvação adequados à época.

Quando estudamos a lei mosaica notamos que embora seja chamada na Bíblia de “Lei de Moisés” ela é subdividida em alguns grupos principais:

O objetor normalmente assume que tudo ou praticamente tudo na lei mosaica era cerimonial, sendo assim abolida por Cristo na cruz, sentindo-se então na liberdade de interpretar o incidente do texto bíblico em questão como uma discussão sobre uma lei a caducar.

Mas sendo honestos ao contexto bíblico vemos que a discussão está relacionada às interpretações da lei sob o prisma da tradição humana. A atitude do Senhor e dos discípulos no colher espigas no Sábado não era uma aberta transgressão da lei mosaica, mas uma ação autorizada pela dita lei! Isso porque o incidente trata justamente da lei de caráter social e humanitária. Vamos ser específicos: nada há na lei mosaica que condene tal atitude do Senhor e dos discípulos, porque tudo tem a ver com o modo e o sentimento com que o fizeram.

Analisando a narrativa de Lucas 6:1-5 vemos o modo como o fizeram: “colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos” (v.1). Esta não é uma ação típica de um transgressor do Sábado, pois esta colheita não visava encher celeiros, comércios e riquezas, mas sim saciar uma necessidade urgente: a fome. Veja o que a lei mosaica de caráter humanitário nos tem a dizer:

"Quando também segares a messe da tua terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua messe. Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o SENHOR, vosso Deus" – Levíticos 19:9-10.

"Quando, no teu campo, segares a messe e, nele, esqueceres um feixe de espigas, não voltarás a tomá-lo; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será; para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em toda obra das tuas mãos. Quando sacudires a tua oliveira, não voltarás a colher o fruto dos ramos; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será. Quando vindimares a tua vinha, não tornarás a rebuscá-la; para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva será o restante. Lembrar-te-ás de que foste escravo na terra do Egito; pelo que te ordeno que faças isso" – Deuteronômio 24:19-21.

Um exemplo bíblico da aplicação dessa maravilhosa lei é o incidente que ocorreu com Rute, a moabita, que era pobre, viúva e estrangeira, que ao entrar nos campos de Boaz, belemita, pode colher o suficiente, não para o comércio, mas para o mantimento seu e de sua sogra (confira Rute 2).

Agora miremos o nosso telescópio histórico para mais adiante uns 1000 anos e veremos o Senhor Jesus Cristo, que não tinha “onde reclinar a cabeça” devido a Sua pobreza (Lucas 9:58) de modo que algumas mulheres que O seguiam “lhe prestavam assistência com os seus bens” (Lucas 8:3), além da Sua rotina agitada, pois Ele e os discípulos “não tinham tempo para comer” (Marcos 6:31). Tendo isso em mente, podemos perceber o por que naquele Sábado o Senhor Jesus e os discípulos, enquanto passavam pelas searas, “colhiam e comiam espigas, debulhando-as com as mãos” (Lucas 6:1). Aquela era a melhor oportunidade de se alimentarem, visto que no pensamento judaico o sábado não era normalmente um dia de jejum.

Concluímos esta seção afirmando que a atitude do Senhor e dos discípulos não era de uma transgressão da lei mosaica, mas uma ação forçada pelas circunstâncias na qual a mesma lhes amparava.

O Mandamento do Sábado era Cerimonial?

Para o Sábado ser violado sem ser considerado pecado, o objetor insiste que esse dia era parte da lei cerimonial. Nada mais falso! Para isso, precisamos saber o que era uma lei cerimonial. Era o conjunto de leis ritualísticas e sacrificais que ilustravam o plano da salvação e que estariam em vigor até a chegada da realidade: Cristo Jesus.

Como foi dito, tais leis representavam a obra de Cristo no plano da salvação, mas o Sábado não compartilha nenhuma das características da dita lei. Pelo contrário, ele foi instituído antes do pecado (Gênesis 2:2 e 3), dada para toda a humanidade (Marcos 2:27 e 28; Isaías 56:1-8) como sinal de identificação e santidade (Ezequiel 20:12 e 20), sendo observado não somente após o grandioso sacrifício na cruz do Calvário (Mateus 24:20), mas adentrando as portas da eternidade (Isaías 66:22 e 23).

Visto que o Sábado não era cerimonial, quais são as consequências de considerá-lo assim dentro do escopo de Mateus 12:1-8?

A Transgressão de uma Lei Cerimonial era Pecado?

Supor que uma lei cerimonial poderia ser transgredida sem que fosse atribuída culpa é, no mínimo, desinformação bíblica, pois quando olhamos o exemplo de Nadabe e Abiú que “trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara” e que logo após “morreram perante o SENHOR” (Levíticos 10:1 e 2) notamos que Deus não deixou passar por alto tal sacrilégio, mesmo em se tratando de uma lei cerimonial. Nesta lei havia também uma ordem específica aos levitas da família dos coatitas: “Havendo, pois, Arão e seus filhos, ao partir o arraial, acabado de cobrir o santuário e todos os móveis dele, então, os filhos de Coate virão para levá-lo; mas, nas coisas santas, não tocarão, para que não morram” (Números 4:15), entre as quais estava “a arca do Testemunho” (v.5). Mas Uzá, levita da família de Merari (1º Crônicas 6:29) não atendeu esta lei, de modo que quando o rei Davi conduzia a arca para Jerusalém “estendeu Uzá a mão à arca para a segurar, porque os bois tropeçaram. Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá e o feriu” (1º Crônicas 13:9 e 10).

Estes dois exemplos são por demais claros demonstrando que para Deus a transgressão de uma lei cerimonial era igualmente um pecado e que era levada muito a sério. Moisés, por ordem do Senhor, registrou uma lei referente ao sacrilégio das coisas sagradas:

"Quando alguém cometer ofensa e pecar por ignorância nas coisas sagradas do SENHOR, então, trará ao SENHOR, por oferta, do rebanho, um carneiro sem defeito, conforme a tua avaliação em siclos de prata, segundo o siclo do santuário, como oferta pela culpa. Assim, restituirá o que ele tirou das coisas sagradas, e ainda acrescentará o seu quinto, e o dará ao sacerdote; assim, o sacerdote, com o carneiro da oferta pela culpa, fará expiação por ele, e lhe será perdoado" – Levíticos 5:15-16.

Note que são usados termos como “cometer ofensa” e “pecar por ignorância” de modo que deveria ser sacrificado um carneiro sem defeito “como oferta pela culpa”, para ser feita “expiação” para enfim o ofensor ser “perdoado”. Com uma terminologia intimamente associada ao pecado e o perdão de pecados no esquema cerimonial, acreditar na falácia de que a lei cerimonial poderia ser tratada de forma flexível é querer permanecer na ignorância quanto aos fatos bíblicos.

Com estes dados em mente, se o objetor decidir permanecer em sua opinião de que o Sábado é cerimonial e que Cristo violou este dia, então a consequência lógica é que Cristo transgrediu uma lei cerimonial, o que biblicamente era pecado, sendo Ele, nestas condições, um pecador (!!!). Quer o objetor ser conscientemente um promotor de opiniões heréticas? Prefere ele sacrificar um fundamento da fé cristã histórica por uma obstinada opinião? Tal conclusão é uma consequência de se considerar o Sábado como cerimonial e que não há transgressão de mandamento cerimonial que incorra em pecado.

Como Compreender as Ações de Davi e dos Sacerdotes no Templo?

Ao ser feita a leitura dos versos de Mateus 12:3-5 o objetor entende que que a lei dos pães da proposição era volátil, descartável diante de situações moralmente urgentes, sem contudo incorrer em pecado. Na seção anterior demonstramos que qualquer lei cerimonial não poderia ser transgredida sem que isso não fosse reconhecido como pecado, mas como a opinião é insistente, é preciso compreender o contexto em que Davi se encontrava para que venhamos dar a correta interpretação às palavras do Senhor Jesus Cristo.

Davi um dia fora honrado pelo rei Saul, mas este, ao sentir-se ameaçado pela presença daquele e temendo perder o reino, começou uma longa perseguição que findou somente com a sua morte. Graças a advertência de Jônatas, filho de Saul, Davi pode fugir com seus homens para salvar sua vida. Na fuga, Davi foi à cidade de Nobe, onde estava o tabernáculo e o sacerdote Aimeleque.

Quando inquirido por Aimeleque quanto a razão de sua presença ali, Davi omitiu os fatos, dizendo que estava em missão secreta por ordem do rei, de modo que as ações do sacerdote estava baseada na ignorância dos fatos, sendo tido assim por inocente.

Davi pergunta ao sacerdote: “Agora, que tens à mão? Dá-me cinco pães ou o que se achar”(1º Samuel 21:3). A resposta deste foi: “Não tenho pão comum à mão; há, porém, pão sagrado, se ao menos os teus homens se abstiveram das mulheres” (v.4). Pelas palavras do sacerdote, podemos perceber que era desejo seu saciar a fome de Davi e seus homens, sem contudo, profanar os pães da proposição. Observando os exemplos de Nadabe, Abiú, Uzá, Finéias e Hofni percebemos que estes manusearam as coisas sagradas por obstinação e arrogância, mas o sacerdote Aimeleque buscou ser caridoso dentro de seus limites. Ele em nenhum momento manifestou o mesmo sentimento que os sacerdotes que desagradaram a Deus. Mesmo assim, há legalidade na escolha de Aimeleque? Dependendo da prioridade, sim. Para isso, precisamos compreender qual é o fundamento da lei divina.

O Senhor Jesus Cristo nos ensinou a prioridade da lei: amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo. Ele mesmo nos disse: “Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mateus 22:40). Quando o Senhor disse “toda Lei e os Profetas” Ele se referia a todas as Escrituras, incluindo as seção cerimonial dos escritos de Moisés. Assim, na aplicação da lei cerimonial devia-se priorizar não só o amor a Deus mas também ao próximo, porque estes princípios excedem “a todos os holocaustos e sacrifícios” (Marcos 12:33); “Quem ama o próximo tem cumprido a lei” e; “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13:8 e 10).

Certamente Aimeleque, como intérprete da lei, compreendia a prioridade desses princípios de modo que sua aplicação da lei estava submissa a eles, coisa tal que os fariseus dos dias de Cristo não fizeram. Foi por isso que Cristo lhes falou: “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes” (Mateus 12:7). Estes, ao contrário do sacerdote Aimeleque, não compreendiam o real significado da lei.

Os Serviços Sacerdotais e o Sábado

Há alguns momentos atrás estudamos que independentemente de considerarmos o Sábado como cerimonial ou não, sua violação invariavelmente implica em pecado. Mas o Senhor Jesus disse que os sacerdotes no templo violavam o sábado e ficavam sem culpa. Como explicar isso?

Nunca podemos perder de vista que o princípio fundamental para a interpretação e a aplicação das leis divinas é o amor - amor para com Deus e para com o próximo. O que era então os serviços no templo senão a demonstração simbólica do plano da salvação que encontraria a sua realidade e máxima expressão na vida de nosso Senhor Jesus Cristo? Deste plano é-nos dito que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16).

Foi por causa do amor de Deus pela humanidade caída que os serviços cerimoniais no templo não cessavam aos Sábados. E tudo isso tem uma implicação profunda: a obra da salvação é contínua. Cristo, nosso Senhor, no santuário celestial, como Sumo Sacerdote, não cessa de interceder por todos os Seus filhos. E esta é uma razão para o glorificarmos cada vez mais.

Olhando através das lentes do plano da salvação, podemos seguramente afirmar que não ocorreu uma violação real do Sábado, com implicações condenatórias, mesmo porque ele foi dado como memorial da libertação do cativeiro que, numa aplicação mais generalizada, é o pecado (confira Deuteronômio 5:15).

O Senhor do Sábado

Até aqui notamos que nada havia de cerimonial no mandamento do Sábado, de modo que a sua função era bem diversa. Quando o Senhor justificou Sua atitude e dos discípulos Ele utilizou-Se de incidentes que envolviam as leis cerimoniais que, se as tais forem interpretadas através das lentes do amor, em nada apontavam para uma fraqueza da mesma, mesmo que Ele a cumprisse de forma satisfatória. Esta lei, como já foi dito, representava o plano da Salvação que nasceu no coração de Deus (Rm 16:25-27). A Bíblia declara que “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4:4). Jesus, no tempo de Deus, se manifestou como o cumprimento da lei, como sacrifício e Sumo-Sacerdote perfeitos. Nesta visão, podemos compreender o que o Senhor quis dizer quando declarou que era “maior que o templo” (Mt 12:6).

Ainda que a lei teve a sua glória e o templo fosse uma expressão do projeto divino, Cristo era a realidade, o perfeito cumprimento da lei, o antítipo de todas as cerimônias. É por este motivo que Cristo era maior que o templo, pois Ele satisfez todos os requisitos da lei cerimonial. O texto nada diz que essa grandeza tinha o propósito de pisar a lei em desprezo, mas para mostrar que Jesus Cristo era a concretização das esperanças do povo de Deus que eram alegorizadas nos serviços do templo.

Mas, quanto a Cristo dizer que era Senhor do Sábado? Isso não é uma prova de que Ele podia fazer o que quisesse com este dia, inclusive aboli-lo? O notável é que o objetor, para que a sua teoria funcione, prefere se utilizar de Mt. 12:8 ou de Lc. 6:5, pois é o que aparentemente sugere a leitura superficial desses textos. Mas Mc. 2:27 e 28 é o mais claro e nos revela um objetivo totalmente inverso: que o Sábado deveria ser uma benção, não só para judeus, mas para toda a humanidade. “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc. 2:27).

Na criação, quem veio primeiro, o homem ou o Sábado? Pelo obvio, o Sábado, por ser posterior à criação da raça humana, deve ser servo da humanidade, provendo os benefícios da comunhão semanal com Deus, do descanso e do encontro com a natureza, coisas eficazes em um mundo que passou a ser pecaminoso e deteriorado.

Impulsionado por Seu amor é que Cristo, homem, “segundo a carne”, mas desde o princípio “Deus bendito para todo o sempre” (Rm. 9:5), instituiu a observância sabática, na qual Ele mesmo deu o exemplo, para que a humanidade desfrutasse de seus benefícios. É por isso que insistimos que Jesus é o Deus Criador (Gn. 1:1 e 2; Jo. 1:1-3; Cl. 1:15 e 16; Hb. 1:1-4), o legítimo “Senhor do Sábado” (Mt. 12:8), Aquele que com Seu próprio dedo gravou em pedra, por duas vezes (Ex 31:18; Dt. 10:4), a Sua grandiosa lei, onde no seu centro nos trás a informação: “o sétimo dia é o Sábado do SENHOR, teu Deus” (Ex. 20:10).

As expressões “Sábado do Senhor” e “Senhor do Sábado” são equivalentes, e revelam que Cristo era o Deus Criador (fato que por muitas vezes fora rejeitado com ira pelos fariseus) e não alguém que estava ansioso por anular o preceito. Doutra sorte teríamos um Deus contradizente que gravou uma lei autodestrutiva em pedras.

Colecionado toda esta abordagem sobre o Sábado demostramos que é inconsistente querer abolir o mandamento sabático. Muitos alegam que Cristo não confirmou a Sua observância para a dispensação Cristã, pois não há um mandamento explícito dizendo: observarás o dia de Sábado. O problema com a mente de muitos cristãos é que tentam fazer o Novo Testamento ser um “filtro“ de mandamentos, mas me permita um contraexemplo: o Novo Testamento nos autoriza a ter relações sexuais com nossas esposas enquanto elas estão com fluxo menstrual (esta é uma das leis sanitárias de Levíticos)? Como não há nada no Novo Testamento que fale sobre isso, podemos trangredi-la como bem quisemos? É claro que não, pois o Antigo Testamento diz: “Não te chagarás à mulher, para lhe descobrir a nudez, durante a menstruação.” (Lv. 18:19). “Se um homem se deitar com mulher no tempo da enfermidade dela e lhe descobrir a nudez, descobrindo a sua fonte, e ela descobrir a fonte do seu sangue, ambos serão eliminados do meio do seu povo.” (Lv. 20:18). Um outro bom contraexemplo é o caso da zoofilia. Há mandamento no Novo Testamento autorizando a zoofilia? Os cristão que estão “livres da lei” podem praticá-la? A resposta é um sonoro não! Isso porque o Antigo Testamento ensina que se “um homem se ajuntar com um animal, será morto; e matarás o animal. Se uam mulher se achegar a algum animal e se ajuntar com ele, matarás tanto a mulher como o animal...” (Lv. 20: 15 e 16; confira Lv. 18:23).

Estes exemplos claros demonstram a fraqueza do argumento de que se o Novo Testamento não citar ou ordenar explicitamente um mandamento então este não precisa ser observado. Logo, mesmo que o mandamento do Sábado não é explicitamente transcrito no Novo Testamento, todas as referências a ele no Antigo Testamento são mais que suficientes para o sincero cristão como prova de sua observância.

Mas para aqueles que desenvolveram um injusto preconceito quanto ao Antigo Testamento, eis uma pérola da verdade de inestimável valor retirada do Novo Testamento: Mt. 24:20. Dos lábio do Senhor Jesus Cristo saiu as seguintes palavras de conselho, um mandamento: “Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no Sábado.” Você já pode imaginar porque não fugir no inverno. Basicamente, pelas dificuldades de locomoção. E por que no Sábado? Antes de dizer a resposta, é preciso levar em conta que o contexto em que Cristo deu este mandamento era em referência à Grande Tribulação. Há basicamente três escolas de interpretação profética que competem quanto a visão profética: Preterismo (que aplica o cumprimento das profecias ao passado, até o início da Era Cristã), o Historicismo (que conclui que o cumprimento da profecia ocorre no desenrolar da História) e o Futurismo (que lança o cumprimento das profecias para o futuro, bem próximo a volta de Jesus). Independente das interpretações das tais “escolas proféticas”, o supracitado texto de Mt. 24:20 não é afetado por nenhumas delas. Ambas concordam que o cumprimento da Grande Tribulação ocorreu, basicamente, cerca de 40 anos após a cruz do Calvário, em 70 d.C., quando o exercito Romano sitiou Jerusalém e destruiu o Templo. Ops! O que podemos perceber nas entrelinhas é que o Senhor Jesus Cristo quis dizer que o Sábado deveria ser ainda observado, mesmo depois do Seu grande sacrifício na cruz. Em outras palavras, nem mesmo a cruz serve de argumento contra o Sábado, pelo contrário, é pelo poder que vem dela que somos aptos a observar este mandamento!

O mesmo Jesus que antes da cruz observava o Sábado, “segundo o Seu costume” (Lc. 4:16), também ordenou seus discípulos a seguirem seu exemplo mesmo depois da cruz, pois Ele selou a Sua lei no coração dos Seus discípulos (Is. 8:16; Jr. 31:31-33; Ez. 36:26 e 27; Hb 8:8-10). Isto é evidente, pois as discípulas de Cristo diante de Seu sepultamento fizeram todos os preparativos e descansaram no Sábado, “segundo o mandamento” (Lc. 24:56). Igualmente, vemos o apóstolo Paulo que, durante suas viagens missionárias entre os gentios, descansava e cultuava a Deus no Sábado (At. 16:13; 17:2 e 3), isso porque ele mesmo eram um imitador dos exemplos de Cristo (1Co. 11:1).

Conclusão

Uma leitura superficial e equivocada do texto bíblico pode conduzir o estudante da Bíblia a concluir coisas estranhas. Quanto ao assunto do Sábado, este problema é agravado pelo histórico preconceito que foi desenvolvido, sob o falso pretexto que os judeus é um povo amaldiçoado por ter matado o Messias Jesus Cristo. Por isso, tudo que lembra judaísmo é preconceituosamente rejeitado. Como o Sábado está fortemente arraigado à religião judaica, tal preconceito recaiu impiedosamente sobre ele. Com este passado encoberto, o cristianismo contemporâneo imagina que isso se trata simplesmente de um debate entre lei e graça. Nada mais falso! Lei e graça não se anulam, se complementam (Rm. 3:31; 6:15). O fato é que a Bíblia ensina que Jesus é o Criador, o Senhor do Sábado (Mt.12:8), que viveu na Terra os verdadeiros princípios do Sábado, que ensinou a humanidade a a guardar o Sábado (Is 56:1-8; Mc 2:27 e 28), não apenas para o presente mas para a eternidade (Is 66:22 e 23).