“... tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” – Colossenses 2:14.
É trivial em alguns debates teológicos sobre a vigência da Lei/Sábado algum irmão cristão de confissão não adventista do sétimo dia expressar um espírito disposto a criticar e rejeitar o que as Sagradas Escrituras chamam de “Lei de Moisés”. É comum tal desprezo ao ponto que afirmam que “o antigo testamento passou” ou que a “velha aliança se desvaneceu”. Dada essas concepções estereotipadas acerca dos antigos mandamentos, sentem-se na liberdade de rejeitar a observância do dia de Sábado.
É estranho tal comportamento dos cristãos, embora Cristo tenha guardado o Sábado e tenha recomendado a sua observância mesmo para tempos de perseguição (Mateus 24:20), mas tudo isso decorre de uma má interpretação de textos. Talvez o texto que mais tem causado problemas quando mal interpretado, provocando tal desprezo entre os cristãos, é o de Colossenses 2:14.
Quando lemos o texto de Colossenses 2:14 percebemos que ele nos fala de uma Lei, chamada “escrito de dívida”, a qual “constava de ordenanças”. Isso é notável quando lemos Efésios 2:15 que nos diz: “... aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz”. Algo chamado “escrito de dívida”, classificado como “prejudicial” e que “era contra nós” não reproduz uma boa imagem em nossa mente. É então compreensível tal impressão mas é preciso verificar se era isso mesmo que o apóstolo Paulo queria nos dizer.
Para compreendermos o que era esse tal escrito de dívida, o próprio texto nos dá uma luz: Cristo “removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz”. Logo, a questão é a seguinte: que lei é essa que Cristo cancelou na cruz? Ao compararmos Colossenses 2:14 com Efésios 2:15 vemos que tal lei é composta de “mandamentos na forma de ordenanças” e que “constava de ordenanças”. Analisando a obra do Senhor Jesus Cristo na cruz através da ótica profética de Daniel, vemos que “Ele [Cristo, o Ungido] fará uma aliança com muitos por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares” (Daniel 9:27). Sendo assim, o que Cristo cancelou na cruz foram os mandamentos referentes a sacrifícios e ofertas, as ordenanças da lei cerimonial. De fato, todo o protestantismo admite que tal lei foi cancelada pelo Senhor Jesus através de Seu sacrifício na cruz, mas o que é a tal lei cerimonial? É todo conjunto de leis e rituais que simbolizavam a obra expiatória de Jesus Cristo. Em outras palavras, tais leis demonstravam o plano da salvação em miniatura. Era um tipo da realidade que se cumpriria plenamente em Cristo Jesus.
Se a lei cerimonial era uma representação do plano da salvação, um instrumento didático para o povo de Deus, o que temos a dizer é que tal lei não era em nada ruim ou maldita, pelo contrário, ela era uma bênção! Pense no seguinte questionamento: Um Deus de amor iria ordenar Seus filhos a guardarem alguma lei que pudesse causar-lhes algum sofrimento? Isso faz parte do seu misericordioso caráter? Agora pense nesse Deus que no Jardim do Éden proveu um meio para Adão e sua esposa se revestirem da justiça divina, instituindo o primeiro sacrifício. Quem fez tal sacrifício? O próprio Deus de amor! É realmente triste ver animais indefesos sendo sacrificados por nossos erros, mas este era o objetivo: impressionar as nossas mentes para o grande sacrifício do Filho de Deus. Foi o amor de Deus por nós que O motivou a instituir tais leis, mesmo que temporárias. Logo, a lei cerimonial nada tem de ruim, pois como disse Tiago: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1:17).
Embora a lei cerimonial não fosse ruim, ela igualmente não compartilhava da mesma função da Lei Moral – A Lei dos Dez Mandamentos. Primeira ilustrava o plano de salvação, a segunda nos revela o pecado. Dessa forma, toda tentativa de tornar o mandamento do Sábado uma lei cerimonial é uma injustiça quanto a sua função moral.
A lei cerimonial era o melhor que um Deus de amor poderia nos dar antes da revelação de Seu Filho Unigênito. Mas ela era bastante ineficaz se comparada com a realidade cumprida na vida do Senhor Jesus. Foi exatamente neste contexto que o apóstolo Paulo quis dizer que tal lei cerimonial era como um “escrito de dívida”, “prejudicial” e “contra nós”.
A melhor explicação bíblica nos é provida pelo próprio Paulo em Hebreus:
"Porque a lei, tendo a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, não pode nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem de ano em ano, aperfeiçoar os que se chegam a Deus. Doutra maneira, não teriam deixado de ser oferecidos? pois tendo sido uma vez purificados os que prestavam o culto, nunca mais teriam consciência de pecado. Mas nesses sacrifícios cada ano se faz recordação dos pecados, porque é impossível que o sangue de touros e de bodes tire pecados. [...] Ora, todo sacerdote se apresenta dia após dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar pecados..." – Hebreus 10:1-4, 11.
Do texto acima podemos tirar as razões pelas quais a lei cerimonial era um “escrito de dívida”, “prejudicial” e “contra nós”:
Ela não tornava prefeito os ofertantes (v.1);
Não nos livrava da consciência do pecado (v.2);
Os sacrifícios faziam recordações dos pecados (v.3);
Era impossível a tais sacrifícios remover pecados (v.4);
A sua frequência não garantia a remoção de pecados (v. 11).
O que podemos concluir é que a lei cerimonial não continha poder salvístico. Não havia nada de místico no sangue de bodes e touros, mas este era um símbolo da obra salvadora de Jesus. A questão agora é: Os ofertantes do passado eram perdoados ou não? Sim, mas não pelos sacrifícios em si, mas pela obra posterior de Jesus Cristo. Estes, por antecipação e pela fé, receberam os benefícios do sacrifício expiatório de Jesus Cristo (Apocalipse 13:8; Efésios 1:4, 5; Romanos 16:15). A morte do Senhor Jesus garantiu o perdão dos pecados dos crentes do passado e dos Seus filhos do futuro.
Com isso, podemos perceber que os sacrifícios em si mesmos não proviam nenhum benefício para os ofertantes, por isso eram contra nós e igualmente prejudiciais. No passado, o Israel apostatado infelizmente converteu a maravilhosa didática divina do plano da salvação em um mero ritualismo formal e sem o compromisso com a verdade. Imaginavam que tais sacrifícios serviam para apaziguar a ira de Deus, como no paganismo. Também fora de seu contexto original tais sacrifícios conduziam o ofertante ao orgulho: “Não confieis em palavras falsas, dizendo: Templo do SENHOR, templo do SENHOR, templo do SENHOR é este” (Jeremias 7:4). Por isso diversas vezes no Antigo Testamento Deus rejeitou ou ignorou os sacrifícios.
Era um escrito de dívida, pois não pagava nada, mas garantia que um dia a dívida seria saldada. Era como um recibo, indicando que a dívida estava pendente, exigindo assim um acerto de contas. E Cristo veio acertar as contas! “Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (João 19:30). Quando Cristo clamou “ESTÁ CONSUMADO!”, Ele realmente estava dizendo: “ESTÁ TUDO PAGO!”. Nossos crimes, isto é, o pecado não mais nos acusa. Não é mais necessário sacrificar para postergar a memória do pecado. Agora está tudo pago. Glórias a Deus!!!!